
No
jornal Valor de 13/09, Michael Pettis faz uma brilhante análise sobre o futuro
da China e suas consequências.
O
Professor sabe do que fala: além de sua reconhecida competência, passa lá boa
parte do seu tempo.
Destaco
alguns trechos do seu texto:
1)
O crescimento econômico chinês está perceptivelmente em desaceleração...A
maioria dos analistas não acredita nos dados oficiais. O crescimento do uso de
energia e o consumo de energia elétrica neste ano ficaram entre inalterado e
negativo, sugerindo que o crescimento real da economia chinesa é
substancialmente menor do que indicam os números oficiais. Alguns economistas
argumentam que o crescimento real da China pode ter ficado na metade das
taxas oficiais;
2)
Os níveis de endividamento aumentaram drasticamente e há muitos anos o
investimento não gera mais retorno suficiente para cobrir o serviço
correspondente da dívida. Os investimentos, porém, têm sido a única fonte
importante de crescimento há 30 anos. A China defronta-se com o problema de que
mais investimentos produzirão uma crise de endividamento, e menos
investimentos resultarão em redução acentuada do crescimento;
3)
O crescimento bem mais rápido do consumo deverá ajudar a resolver o
problema, mas sendo a participação do consumo chinês no PIB pouco superior a
metade da média mundial, levará muitos anos para que o consumo possa crescer
suficientemente para substituir o investimento como motor de crescimento da
economia;
4)
A chave para aumentar o consumo é aumentar a participação da renda familiar
no PIB, que é muito inferior à de qualquer outra economia no mundo. Elevar
a parcela de renda familiar no PIB requer aumentar os salários na China,
valorizar o yuan e, o mais importante, reduzir o imposto oculto que as famílias
implicitamente pagam às instituições que lhes tomam dinheiro emprestado a juros
artificialmente baixos;
5)
Infelizmente, a taxa de crescimento dos investimentos chineses precisará cair
durante muitos anos, antes que a participação da renda familiar no PIB seja
suficientemente elevada para que o consumo substitua o investimento como motor
do crescimento;
6)
...o que a economia mundial necessita da China não é
maior crescimento do PIB, porém mais demanda líquida. O reequilíbrio chinês
proporcionará exatamente isso, apesar de que, de início, será difícil baixar a
taxa de poupança tão rapidamente quanto a taxa de investimentos. Isso implica
que o superávit comercial chinês provavelmente crescerá durante um ano ou dois,
antes de começar a cair, e assim contribuirá para o crescimento mundial;
7)
Mas nem todo mundo se beneficiará de um reequilíbrio chinês. À medida
que a China reduzir a taxa de investimentos, os preços das commodities minerais
deverão cair acentuadamente. Isso é bom para a maioria dos países, mas irá
impactar negativamente países produtores como a Austrália e o Brasil, que
“engordaram” devido ao excessivo investimento chinês;
8)
Os preços de uma série de metais já caíram drasticamente, refletindo
preocupações diante da desaceleração do crescimento chinês, mas ainda há um
longo caminho descendente para as cotações....os produtores de commodities
em todo o mundo não parecem ter acompanhado o debate na China tanto quanto
deveriam. Em minhas discussões com altas autoridades nos setores de commodities
no Brasil, Austrália, Peru, Chile e até mesmo na Indonésia, parece-me que
muitos produtores não estão cientes de quão dramaticamente o consenso mudou nos
últimos dois anos na China. Eles não entenderam a profundidade dos
problemas estruturais chineses e como Pequim agora se preocupa com isso. A
preocupação no âmbito da elite chinesa pode ser mais bem exemplificada pelo
crescimento extraordinário da fuga de capitais da China desde o início de 2010.
Miori.
ResponderExcluirSó nos resta torcer para que os EUA comecem a se recuperar mais rápido antes que a China desacelere muito.
É verdade. Para o US, o Brasil exporta de forma mais diversificada. Mas aí entra a questão da competitividade brasileira, que está deixando a desejar.
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